Áreas de Intervenção e Avaliação
Perturbação da Linguagem, comunicação e fala
Será que uma criança pode comunicar algo sem ainda ter adquirido linguagem e fala? E será que quando falamos comunicamos sempre alguma coisa? E o facto da criança ter adquirido linguagem significa que necessariamente fala?
Comunicação, linguagem e fala são conceitos que no discurso quotidiano são entendidos e utilizados enquanto sinónimos. Porém, estamos na presença de termos diferentes que manifestam distintos aspetos de desenvolvimento da criança.
A criança começa por aprender a comunicar, gradualmente vai desenvolvendo a sua linguagem, e finalmente, usa a fala.
Assim, uma criança pode comunicar sem ter adquirido linguagem ou fala (p.e. o bebé comunica através do choro quando tem fome ou sono). Inicialmente não o faz de forma intencional, mas os pais acabam por dar um significado aquele comportamento. Consoante vai crescendo, torna-se mais competente, demonstrando mais intenção no que quer transmitir, utilizando outras formas de comunicação como a expressão facial, o gesto e a postura corporal. É deste modo que a criança vai construindo as bases para desenvolver a linguagem, começando primeiro por compreender o que lhe dizem e só mais tarde é que começa a expressar se por sílabas, palavras ou frases.
Em suma, comunicação, linguagem e fala constituem atributos básicos do ser humano, daí dependendo muito daquilo que cada individuo é na sua essência.
Neste sentido, as preocupações com a boa utilização da linguagem e com o desempenho linguístico eficaz são aspetos muito importantes.
Comunicação: o que é comunicar?
A comunicação diz respeito ao processo ativo e contínuo de troca de informação que envolve a codificação, a transmissão e a descodificação de uma mensagem entre dois, ou mais, intervenientes.
É um processo complexo de troca de informação, que influencia o comportamento dos outros e encontra-se relacionado com todas as áreas de desenvolvimento, implicando uma combinação complexa de competências cognitivas, motoras, sensoriais e sociais.
Na maioria das vezes os processos de comunicação são uma combinação de mensagens verbais e não-verbais, no entanto para que a comunicação tenha sucesso é necessário que os interlocutores dominem um código comum e utilizem o canal de comunicação apropriado à situação.
Para clarificar, reforçar ou distorcer a mensagem, o sistema comunicativo serve-se de mecanismos ou chaves de suporte que podem ser extralinguísticos (gestos, postura corporal e expressões faciais) ou paralinguísticos (entoação, pausas, hesitações, velocidade e ritmo das produções).
Muitas pessoas não são capazes de comunicar através da fala, o que nos leva necessariamente à questão: como é que alguém que não fala pode comunicar?
Crianças ou adultos que apresentam determinadas patologias como a deficiência mental ou motora, o autismo, a paralisia cerebral ou outras perturbações da linguagem, necessitam de um modo de comunicação não oral alternativo ou complementar à fala. A dificuldade em comunicar pode acarretar consequências já́ que a comunicação é fundamental na interação social, pois é através dela que concretizamos aquilo que pensamos e sentimos.
Quando a fala não pode ser um veículo da linguagem torna-se fundamental proporcionar, o mais precocemente possível, um sistema alternativo ou aumentativo de comunicação, sendo para as pessoas que não conseguem falar, o seu único meio de expressão.
Pelo facto de o sistema linguístico ser considerado o mais complexo dos códigos, a comunicação verbal (linguagem oral e escrita) constitui a forma mais elaborada de comunicação.
“A comunicação é a chave da aprendizagem” (Downting, 1999)
Linguagem: o que é?
Já A linguagem é um sistema complexo e dinâmico de símbolos convencionados, com os quais os humanos comunicam, pensam, exprimem pensamentos e ideias como meio para a comunicação, e que se constrói de forma gradual.
A linguagem apresenta três grandes dimensões: a forma (como se diz) – fonologia, morfologia e sintaxe; o conteúdo (o que se diz) – semântica/léxico e o uso (onde se diz) – pragmática.
No caso da aquisição da linguagem oral, esta ocorre através de um processo interativo que envolve a manipulação, combinação e integração das formas linguísticas e das regras que lhe estão subjacentes, permitindo o desenvolvimento de capacidades de perceber a linguagem (linguagem compreensiva) e capacidades para formular/produzir linguagem (linguagem expressiva) e, este processo é determinado pela interação entre fatores ambientais, psicossociais, cognitivos e biológicos.
Devido à sua complexidade, são vários os fatores que podem interferir no desenvolvimento e aquisição da linguagem, tais como: desenvolvimento cognitivo, afetivo, neuropsicológico e orgânico, não esquecendo a componente ambiental ou contextual.
Quando se fala especificamente da linguagem oral, fala-se do uso convencional de palavras faladas, ou escritas, tendo por objetivo a comunicação interpessoal sendo o modo de comunicação e representação mais utilizado, exigindo uma estrutura, significado, propósito e intencionalidade.
A produção oral de mensagens e a compreensão do que é dito, sendo processos separados, assentam ambas no conhecimento de estruturas da língua e das respetivas regras de uso em contexto.
A compreensão envolve a receção e decifração de uma cadeia de sons e a respetiva interpretação de acordo com as regras de um determinado sistema linguístico. Já a produção, diz respeito à estruturação da mensagem, formatada de acordo com as regras de um determinado sistema e materializada na articulação de cadeias fónicas, no caso da linguagem oral.
A escrita é o sistema simbólico que surge na sequência do desenvolvimento da linguagem oral, pelo que se considera um segundo sistema simbólico que se subdivide num subnível recetivo (leitura) e num subnível expressivo (escrita).
A aquisição e domínio da linguagem escrita, ao contrário do que acontece com a linguagem oral, não se desenvolve de forma espontânea, uma vez que o seu processo de aprendizagem exige tempo, treino e esforço tanto por parte do aluno como do professor. Assim, o domínio da vertente escrita da língua engloba a competência de extração de significado de material escrito (leitura) e o domínio do sistema de tradução da linguagem oral em símbolos e estruturas gráficas (expressão escrita). No entanto, apesar destas competências serem distintas, acabam por se relacionar de forma permanente com as competências da linguagem oral tanto ao nível da compreensão (atribuição de significado a cadeias fónicas) como da expressão (produção de cadeias fónicas dotadas de significado).
Assim, a linguagem oral que uma criança apresenta na entrada para o primeiro ciclo é a base da linguagem escrita com que passará a confrontar-se, ou seja, o desenvolvimento da linguagem oral está intrinsecamente relacionado com a aprendizagem posterior da leitura e escrita e o conhecimento de ambas as vertentes da língua (oral e escrita) é indispensável para a integração e domínio da maioria dos conteúdos disciplinares que constituem o currículo escolar dos alunos.
A deteção precoce de dificuldades de linguagem é muito importante, uma vez que quando existem alterações no processo de aprendizagem da linguagem oral, talvez se verifica a ocorrência de posteriores dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita.
Fala: o que é?
A fala é a forma oral da linguagem para transmitir mensagens e envolve uma precisa coordenação de movimentos neuromusculares orais (ato motor), a fim de produzir sons e unidades linguísticas (fonemas, palavras, frases), realizada através do processo de articulação de sons. Quando comparada com outras formas de comunicação (gestual ou escrita), a comunicação através da fala é, sem dúvida, a mais rápida e a mais eficaz.
Áreas de intervenção:
Comunicação
– Perturbações da Comunicação
– Comunicação não-verbal
– Comunicação aumentativa e alternativa
Fala
– Perturbações Fonéticas
– Apraxia
– Disartria
– Ataxia
– Dispraxia
Motricidade Orofacial, Alimentação e Deglutição
– Funções orais e faciais
– Respiração
– Sucção
– Mastigação
– Deglutição
– Seletividade Alimentar
Linguagem
– Compreensão e Expressão
– Fonologia
– Morfologia
– Sintaxe
– Pragmática – uso da língua em contextos sociais da comunicação
– Literacia – Leitura e Escrita
– Atraso do Desenvolvimento da Linguagem
– Perturbações Fonológicas
– Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem
– Dislexia
– Afasia
Audição
– Processamento Auditivo
– Discriminação Auditiva